Mas um fotógrafo que não sabe ler suas próprias imagens não é pior que um analfabeto?
Não se tornará a legenda a parte mais essencial da fotografia?
(Walter Benjamin, 1987, p. 107)
De acordo com o post anterior, foi possível compreender que a fotografia é um meio de expressão e comunicação da informação, que necessita de normas técnicas e protocolos de descrição, indexação, que viabilizem o acesso, recuperação, preservação e difusão da informação.
Essa reflexão engloba o lugar da fotografia nos bancos de dados eletrônicos, vinculados a preservação e pesquisa. Os bancos institucionais, e aqueles bancos integrados a projetos de pesquisa.
Instituições como os museus, arquivos e bibliotecas que gerenciam acervos iconográficos, são lugares privilegiados para a implantação de bancos de dados, que contemplem a especificidade da imagem, especificidade que reside em grande parte no fato de ela ser um objeto visual. Atualmente, os bancos de imagens são capazes de recuperação de imagens cores, texturas ou mesmo fisionomias. (MAKINO; Silva; LIMA; CARVALHO, 2000)
A formação de Centros de Memória, Museus e Arquivos Institucionais que se voltam para o tratamento das fontes materiais e visuais, transformam essas fontes em patrimônio cultural, valorizando, sobretudo, a fotografia, pois os valores estéticos, a raridade do tema, criam em torno destas imagens um fascínio. [ . . . ] à indexação informatizada dos descritores, aprofundou a análise dos padrões visuais no retrato. (MAKINO; Silva; LIMA; CARVALHO, 2000)
Como documento de coleção, a fotografia advém de uma iniciativa pré-concebida, que visa à acumulação de um tipo de imagem, segundo critérios próprios da atividade de colecionar, que é uma prática que retira o objeto de um contexto para introduzi-lo em outro, agora regido por regras definidas por seu proprietário. A maior preocupação, se tratando da fotografia de coleção, é da sobreposição do arranjo inicial do colecionador, dado por ele, aos interesses institucionais que modifica, ou perde as pistas do que era a organicidade dessa coleção primeira. O grande desafio hoje é conseguir trabalhar os critérios da instituição, sem que isso aconteça em detrimento daquela biografia,a história que a coleção agrega. “Contextualizar a fotografia significa manter o seu lugar de procedência no quadro documental, refletindo a atividade que a produziu.” (MAKINO; Silva; LIMA; CARVALHO, 2000)
Fazendo uma breve análise dos bancos de dados de imagens, é possível perceber que a área da publicidade e do foto jornalismo, voltado plenamente ao mercado, privilegiam a imagem na primeira tela, protegendo os direitos autorais do fotógrafo. Já os bancos de imagens da área dos museus de arte, apresentam informações biográficas e de proveniência, porém fornecem uma catalogação muito suscita disponibilizada ao pesquisador. O banco de dados com mais clareza, contendo informações que nos outros bancos é demonstrada somente nos bastidores.
Quando a fotografia passa a integrar o mundo digital, uma enorme descontextualização, um processo crescente de mercantilização da imagem é notável, não só em relação à questão dos direitos autorais, mas também o preço a ser pago por essas imagens, e quem pode adquirir. É um problema político, enfrentado pelo gerenciamento da informação, e quem tem poder para deter acervos e a informação sobre esses acervos. Além da mudança constante de formatos das bases dos softwares, toda essa obsolescência trazida pelo mundo da informática.
Referências:
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas. In: Magia e Técnica: arte e política. São Paulo: brasiliense, 3 ed., 1987.
MAKINO, Miyoko; SILVA, Shirley Ribeiro da; LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. O serviço de documentação textual e iconografia do Museu Paulista. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. vol,10-11 no.1. São Paulo, 2003.
MEMÓRIA e patrimônio em dois cliques: a pesquisa com imagens em contextos museológicos. Disponível em: < http://doiscliques2008.blogspot.com/> Acesso em: 25 set. 2010.